A minha vida profissional foi (e é) um caminho bem curioso. Quando estava no terceiro ano, tentei vestibular para Arquitetura. Como não passei na UFMG por um nervosismo absurdo, me dediquei aos estudos e cursinho. Na época de me inscrever novamente, não sei o que me deu e ai eu optei por Fonoaudiologia. Fiz terapia com fono para adequar a musculatura da minha boca a minha “nova boca” que mudava a cara apertão do aparelho. Poxa, foi super satisfatório, rápido e eficiente. Era legal, juro!
Ai eu passei, entrei e não me adequei. Durante toda minha vida eu gostei de atividades manuais e artísticas, minha mãe é uma pessoa muito habilidosa e a convivência e estímulo dela contribuíram muito. Ai no meio do curso eu decidi que largaria tudo para fazer Artes Plásticas. Fiz aulas de desenho para as provas de transferência de curso e vestibular em outra universidade, a UEMG. Passei na UEMG e fui reprovada na transferência da Federal.
Minha vida virou uma bagunça. Porque eu resolvi que terminaria o curso de Fono e faria Artes Plásticas a noite. Foram dois anos bem intensos. No final do curso de Fono, a minha “vocação” despertou: gostava muito de atender idosos, são pessoas que exigem uma demanda de psicologia, de conversa, bom humor… Tive a oportunidade de continuar na universidade na área de reabilitação vestibular (que cuida do equilíbrio). Foi uma experiência boa pois estava ali como fono e professora.
Vejo que a saúde no Brasil é uma prioridade. O que eu gostava era bem complicado, restrito e pouco conhecido pelos profissionais afins e eu deixei de trabalhar depois de dois anos, que casou com o tempo que finalizava o meu curso de artes plásticas. No mesmo ano eu comecei uma pós em arte contemporânea, tentei mestrado duas vezes e não passei, chegando muito, muito, muito perto…
Neste meio tempo eu comecei com minha mãe a desenvolver umas peças de roupa e vender pela internet. Aos poucos as pessoas começaram a pedir dicas de como usar aquelas roupas, inspirações… Tomei gosto por maquiagem também e foi um processo gradual… O blog de vendas virou um blog de moda e beleza, este que vocês estão lendo, o “Sim, senhorita”.
Fiz muitos trabalhos como “blogueira”. Nunca me senti a vontade com esta denominação. Conheci pessoas e tive oportunidades. Fiz trabalhos que nunca imaginei, participei de marcas que acreditava no trabalho e foi sim por um bom tempo um prazer. O problema que o mercado de moda é tão egocêntrico como o de arte. Chega a ser cruel com quem não está nos padrões, com quem não tem tantas posses. Vi tanta gente se adequar, se vender para sobreviver e passei a questionar um pouco isso.
Neste meio tempo eu mudei de casa e também serviu para que minha cabeça voltasse para um lugar que considerava o correto. Eu queria ter a minha casa, me casar e ter filhos, da forma que a minha vida seguia, nada disso aconteceria. Ai eu me vi perdida novamente, sem saber o rumo que tomaria. Dei um ano ao blog e trabalhos na área de moda, como não cresci eu decidi que mudaria novamente.
Estava cansada e não queria começar nada do zero. A opção foi seguir carreira dentro da empresa do meu pai, algo que nunca quis. Meu pai é aquele sujeito que caiu na área e gostou, passou por poucas e boas e hoje tem um nome respeitadíssimo no mercado e adora o que faz (tanto é que trabalha de domingo a domingo). Porém isso teve um custo: afastamento da família. Não queria que isso acontecesse, mas também não tinha escolha. E foi o que eu escolhi.
Minha família me apoiou, assim como me apoiaram em todas as mudanças. Meu ex namorado não, me falou que eu estava louca. Confesso que, por conta do meu relacionamento eu deixei muita coisa de lado pois gostava dele e achava que valeria o sacrifício. Escutei os “conselhos” dele, uma pessoa que estava mais perdida que eu. Por exemplo: deixei trabalhos ótimos simplesmente porque era sábado, poderia tentar mestrado ou cursos fora já que meus pais poderiam me ajudar financeiramente, recusei viagens de trabalho e outras coisas pessoais.
Ele era inseguro e isso se manifestava nos comentários com doses de desconfiança e ciumes. Ele tinha as verdades dele e eu as minhas, quando começávamos a conversar e eu sentia cheiro de discussão que não chegaria a nada eu simplesmente abria mão, não gosto de desperdiçar energia com algo que não vai resolver porque a outra parte não está disposta a um acordo.
Sempre fui flexível, abri mão de várias coisas e mudei de ideia principalmente quando via que a minha visão está errada/inadequada, mas isso não acontecia por parte dele. Ele acreditava que o correto era trabalhar com o que gostava. Mas até que ponto isso é válido? Mesmo quando a gente faz o que gosta tem dor de cabeça, problema, imprevisto, desilusão… O conceito de felicidade para mim mudou e o namoro terminou. Quero hoje atingir os meus objetivos, sei que a felicidade não é constante mas que os momentos felizes são sensacionais.
Fiz o curso, foi pesado. Muita matéria, muita decoreba, muita picuinha. Fiz novos amigos e me abri para o mundo cheio de vida que estava acontecendo fora do computador. O ano passou, me “formei” como corretora de seguros e estou aqui, trabalhando com meu pai, aprendendo diariamente num processo que requer paciência. E curiosamente gostando! Lido com pessoas diferentes todos os dias, converso e aprendo tanta coisa, vocês não nem noção.
Bom, talvez algumas pessoas pensem que eu sou louca ou não sei bem o que quero. O caminho foi confuso, mas válido. Com a Fono eu aprendi a lidar e ter paciência com as pessoas, a Arte me deixou mais sensível e criativa, na moda eu me tornei mais versátil e flexível. Sobre o que aprendi como corretora? Bom, ainda estou aprendendo, posso conversar sobre isso ano que vem? Mas saibam que estou bem, me realizando cada vez mais e sentindo que as coisas estão chegando no lugar com muito carinho.
ps.: Não culpo meu ex, eu me culpo. As decisões foram minhas e eu fiz por amar e acreditar neste amor. Se eu faria de novo? Possivelmente com a minha experiência de hoje não. Mas foi válido, até mesmo para o que aconteceu depois…
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